Crise do transporte: por que a malha ferroviária de Alagoas ficou fora da Transnordestina?

Agendaa 29 de maio de 2018

Por Rodrigo Cavalcante

Imagine a cena: você vai ao Centro de Maceió (sem precisar enfrentar a Fernandes Lima até o Aeroporto, em Rio Largo) e, na Estação Central, escolhe o destino do próximo trem: Recife, Campina Grande, João Pessoa, Natal.

Pois é: o que hoje parece ficção, já foi realidade até meados da década de 1950, quando a Great Western Brasil Railway chegou a ter mais de 1 650 quilômetros de ferrovias cruzando o interior dos Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Não apenas para transportar passageiros mas, principalmente, para o transporte de cargas.

Em todo o mundo, o transporte de cargas via ferrovias não apenas reduz o custo do frete, como melhora a qualidade e segurança das rodovias – já que os automóveis podem circular sem disputar espaço com carretas e outros veículos pesados.

Hoje, as abandonadas estações ferroviárias do interior de Alagoas não recebem mais nem trem de passageiros, nem trem de carga. Nossa imponente Estação Central, de onde saíam trens para vários Estados do Nordeste, virou ponto de trem urbano da CBTU no reduzido trecho até Lourenço de Albuquerque.

E tudo indica que Alagoas continuará sem ver sequer um vagão de trem de carga nas próximas décadas.

A última esperança de Alagoas voltar a ter ferrovias para transporte de cargas morreu com a decisão da Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), empresa da Companhia Siderúrgica Nacional que herdou a concessão da Malha Nordeste da antiga Rede Ferroviária Federal S.A., de não investir mais na malha ferroviária de Alagoas, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Conforme confirmou por telefone a assessoria da companhia de sua sede, em Fortaleza, a empresa negocia a devolução da malha alagoana e desses dois outros Estados ao Governo Federal por “inviabilidade econômica” – no caso de Alagoas, acentuada ainda mais pela enchente de 2010 que teria prejudicado ainda mais o que sobrou da linha férrea das cidades à beira dos rios Paraíba e Mundaú. Ou seja: o traçado da Transnordestina não será, na verdade, tão “transnordestina” assim, reduzindo-se a basicamente dois trechos: um que já liga os portos de Itaqui (São Luis/ MA), Pecém (São Gonçalo do Amarante/ CE) e Mucuripe (Fortaleza/ CE). E outro, ainda em construção, ligando o interior do Piauí ao Porto de Suape, ao Sul de Pernambuco (com plano futuro de integrar os dois trechos).

Até lá, se nada for feito, as dezenas de estações ferroviárias no interior de Alagoas podem se transformar, na melhor das hipóteses, em museus – para receber os poucos turistas que decidiram enfrentar nossas estradas repletas de carretas e caminhões.