AGENDA A IDEIAS: ‘9 lições da campanha de Rodrigo Cunha para ajudar a renovar a política alagoana’

Agendaa 12 de outubro de 2014

*Por Rodrigo Cavalcante

Ok, Rodrigo Cunha era diferente antes mesmo de ser candidato.

Seja pela história de vida – lutou por mais de dez anos por Justiça (e não vingança) contra os assassinos de sua família, incluindo sua mãe, a deputada Federal Ceci Cunha -, seja pelo trabalho à frente do Procon, ele tinha uma série de ingredientes naturais que, em geral, os marqueteiros precisam criar artificialmente para seus candidatos.

Nem os mais próximos poderiam imaginar no início de sua campanha, contudo, que ele seria o deputado estadual mais votado de Alagoas – ainda mais em um Estado conhecido por ter uma das campanhas mais caras do país.

A vitória de Rodrigo indica que parte da sociedade, composta por formadores de opinião, tem um poder bem maior do que imagina para renovar nomes da política alagoana.

Desde que, é claro, parem de criticar genericamente os políticos e a política do Estado e comecem a trabalhar para promover novas lideranças – lembrando, nesse caso, que “novas lideranças” nada tem a ver com juventude, já que a maioria dos jovens candidatos eleitos no Estado representam, na prática, a velha política.    

Com ajuda do coordenador da campanha de Cunha, Hermann Braga, enumeramos abaixo algumas lições úteis do movimento que ele chamou de “Nossa Política”, que pode ajudar a eleger novos nomes nas próximas eleições:

1)    A primeira é estimular bons nomes da sociedade civil, a maioria hoje avessa à política, a se filiarem em um partido. Se o nosso sistema político é, em grande parte, responsável pelas distorções em nossa representação, pior ainda é ignorá-lo e entregá-lo aos carreiristas. Ainda que os partidos tenham perdido boa parte de seu significado, é preciso pertencer a uma sigla para ser eleito e tentar mudar algo. Simples assim;  

2)    A segunda lição é não permitir que a intolerância partidária desqualifique bons nomes em função de suas siglas. Rodrigo Cunha se elegeu pelo PSDB, assim como outros nomes, como o do ex-deputado estadual Judson Cabral, do PT (que dessa vez ficou de fora por pouco), sempre contou com o voto de eleitores de outros partidos. O próprio Cunha reconhece que é uma pena não ter Judson na Assembleia, assim como outro tucano, o atual prefeito Rui Palmeira, sempre manteve uma boa relação com o deputado do PT durante dias tenebrosos na Assembleia. Lembre-se: o principal problema político do Estado não é ideológico, é de mediocridade e corrupção;

3)    A terceira lição é tentar diluir ao máximo as fontes de arrecadação para não depender de um ou dois grandes grupos financiadores. Como não existe almoço grátis, qualquer candidatura financiada desta forma vira a candidatura de um pequeno grupo – que quase sempre não tem relação com o interesse público. E isso vale tanto para os interesses de uma única empresa privada, como para os de uma grande construtora, para os interesses corporativistas de uma única classe, ou os de um sindicato;  

4)    A quarta lição, vinculada diretamente à anterior, é estimular a cultura da doação individual. Na campanha de Rodrigo Cunha, o coordenador Hermann Braga chegou a planejar a criação de um grupo de 500 pessoas (G 500) ou de 1000 (G 1000) que poderiam viabilizar os recursos necessários com doações pessoais de R$ 1 000 ou R$ 500. Apesar de o próprio Herman reconhecer que a ideia terminou não sendo totalmente implantada, ele diz que o conceito é perfeitamente exequível;

5)    A quinta lição é lembrar que, além de recursos financeiros, uma campanha precisa saber captar recursos humanos, principalmente via trabalho voluntário. Com uma Central de Engajamento via Internet e telefone (comandada pela jornalista Naara Normande), a campanha de Rodrigo Cunha definiu maneiras práticas de participação que incluíam trabalho de distribuição de adesivos, cessão do carro para plotagem, presença em caminhadas, enfim, indicou com clareza como o cidadão poderia participar;   

6)    A sexta lição é criar uma linha de comunicação direta e criativa via redes sociais e outros instrumentos – não apenas para economizar com verbas de divulgação, como para criar uma relação diferente com o eleitorado. Uma das inovações da campanha de Cunha foi o envio de mensagens customizadas para grupos de Whatsup, tendo acesso com isso, por exemplo, a grupos fechados de uma família para pedir votos diretamente para aquele grupo;     

7)    A sétima lição é não confundir um modelo alternativo de campanha com uma campanha alternativa sem planejamento e profissionalismo. Planejar uma campanha que não siga os vícios das tradicionais exige detalhamento ainda maior – até para se delimitar com clareza o que não fazer;    

8)    A oitava lição, relacionada à anterior, é não permitir que a campanha adote um tom de vitimização ou autoflagelação. O jogo político é, sim, bruto e desigual, mas adotar um discurso de vítima (mesmo quando se é) termina reforçando a ideia de que a Política não pode ser positiva – realimentando uma cultura de baixa autoestima em Alagoas cujo efeito colateral é mais indiferença e menos participação;

9)     E a nona lição, e talvez a mais importante, é compreender que as lições acima são válidas apenas para candidatos com interesse genuíno em fazer a diferença. Na cola do formato da campanha de Rodrigo Cunha, não faltarão oportunistas. Ou seja: cuidado para não ser condescendente com aquele amigo gente boa, carismático, eficiente, mas dotado de um generoso relativismo moral que o torna incapaz de discernir seus interesses – dos de quem representa. Após a vitória, o próprio Rodrigo Cunha sabe que caminhará em terreno árido. Será pressionando não apenas por políticos que farão questão de mostrar que “ele não é diferente”, como por aliados que acreditam que não há incompatibilidade entre o bem de seus negócios e o bem de Alagoas.

Independentemente de como essa trilha vai terminar, contudo, ao menos uma clareira já foi aberta. Resta agora ampliá-la e protegê-la para futuros novos entrantes. 

 

c*Rodrigo Cavalcante é editor do AGENDA A 

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