Caro candidato, precisamos falar com urgência sobre o Uber em Maceió

Agendaa 20 de setembro de 2016

*Por Rodrigo Cavalcante

Caro candidato.

Sei que você não queria falar sobre isso. Ainda mais agora, em meio a toda essa pressão. Melhor evitar um tema tão delicado. Até porque contraria os taxistas. E você sabe, né? Taxistas são como cientistas políticos itinerantes. Têm opinião formada sobre quase tudo. São influenciadores. Quando você desembarca em uma cidade e quer medir a popularidade do prefeito, você pergunta primeiro a quem?

O vereador Galba Novaes Netto, que de bobo não tem nada, também quis ser o primeiro a ganhar o voto dos taxistas ao apresentar um projeto de lei para impedir que esse tal de Uber desembarque aqui em Maceió.

(Para os que ainda não sabem, o Uber é um serviço que conecta, por meio de um aplicativo, motoristas profissionais ou não a passageiros que precisam deles. Como dispensa intermediários, costuma cobrar menos e os próprios usuários se encarregam da avaliação do serviço, é uma daquelas inovações que ameaçam os modelos tradicionais de transporte pago).

Pois é. A tal lei de Galba Netto proibindo o uso de carros particulares através de aplicativos para transporte remunerado individual de pessoas, como o Uber, foi aprovada em votação na Câmara Municipal de Maceió em setembro de 2015 e promulgada em maio deste ano.

Assunto encerrado, certo?

Infelizmente, não.

Lamento informar que o Uber não desistiu de Maceió. Nem os maceioenses do Uber.

Para falar a verdade (e aqui entre nós), o Uber já começou a se reunir nessa terça com potenciais motoristas na cidade. O Uber sabe que conta com o apoio de milhares de maceioenses. Muitos deles assinaram até uma petição com o objetivo de derrubar a lei.  

Daí que, a partir de hoje, vai ficar difícil esconder sua opinião no armário. Como futuro vereador ou prefeito de Maceió, você vai se posicionar a favor ou contra aplicativos como Uber?

Ninguém é ingênuo. O Uber não é bonzinho. É uma empresa. Como toda empresa, precisa ser submetida, sim, a algum tipo de regulamentação. Daí a pretender que os maceioenses fiquem ilhados e não tenham direito a usar um novo meio de transporte pago, é outra história. E a história costuma ser implacável com aqueles que não saem do passado, a exemplo dos que quebraram as primeiras máquinas de tear no início da Revolução Industrial ou foram recentemente contra os caixas eletrônicos e outros processos de automação. 

Barrar o Uber sob o argumento da necessidade de preservação dos postos de trabalho dos taxistas, por exemplo, seria quase o mesmo que impedir a Internet de transmitir notícias para preservar o emprego de quem trabalha em jornais de papel. (Escrevi muito para jornais e revistas de papel, hoje você me lê online aqui).

Nunca é demais lembrar, também, que boa parte dos que dirigem táxi hoje não têm carro próprio – e são, na verdade, explorados por donos de grandes frotas que cobram diárias pelo uso do automóvel licenciado.  

E aí, candidato, em que direção você vai?

É bom pensar rápido, o motorista está quase chegando…  

 

 

c*Rodrigo Cavalcante é editor do AGENDA A 

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