A aula de Matemática que os secretários de Educação de Alagoas e de Maceió deveriam assistir

Agendaa 26 de janeiro de 2018

Por Rodrigo Cavalcante

Nesta quarta (25), o Brasil entrou para a elite da pesquisa em Matemática mundial ao ingressar no seleto Grupo 5 da União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês) ao lado de países como Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia.

O que nem todos os alagoanos sabem é que nosso Estado é referência nacional no Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada, com sede no Rio de Janeiro) como berço de alguns dos maiores matemáticos do país, com nomes como Elon Lages Lima (que faleceu ano passado), Manfredo Perdigão do Carmo, Hilário Alencar (professor do Instituto de Matemática da Ufal) e expoentes da nova geração como Fernando Codá, conhecido mundialmente após solucionar a Conjectura de Willmore, um dos mais desafiadores problemas da geometria, e Krerley Oliveira, professor do Instituto de Matemática da Ufal que integrou um projeto de Matemática que levou o maior prêmio científico da França, o Grand Prix Scientifique Louis D.

Foi, por exemplo, graças à influência de Krerley no Impa (ele foi coordenador da seleção brasileira na Olimpíada Internacional ano passado) que Maceió sedia esta semana um evento que reúne cerca de 100 estudantes de todo o país (selecionados entre mais de 18 milhões) premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática do ano passado.

Em pleno mês de férias e de Maceió Verão, eles estão no Maceió Mar Hotel recebendo treinamento para formar as equipes que disputarão a próxima Olimpíada Internacional de Matemática (que será realizada na Romênia em 2018) além de outras disputas internacionais.

Desde que a Olimpíada brasileira de Matemática foi criada, em 1979, seguida pela criação em 2005 de outra voltada apenas para escolas públicas de todo o país, esses eventos se tornaram um dos mecanismos mais efetivos para melhorar os indicadores de Educação em cidades e Estados de todo o país.

Não à toa, Estados como Ceará, no Nordeste, e Minas Gerais, no Sudeste, criaram programas de apoio paralelo e incentivos aos estudantes para estimulá-los a participarem das Olimpíadas – ajudando a melhorar os indicadores do Ideb.

Em Alagoas, graças ao trabalho de alguns professores da rede pública (boa parte deles formado no mestrado profissionalizante do Instituto de Matemática na Ufal), cidades como Branquinha, Jequiá da Praia e Coruripe começaram a estimular a participação dos alunos – com influência direta nos indicadores de educação dos municípios. Voluntariamente, professores do Instituto de Matemática da Ufal criaram até um Núcleo de Treinamento Intensivo de Alagoas (Nuti) para preparar alunos da rede pública gratuitamente com aulas aos sábados. Não à toa, Alagoas bateu seu recorde de medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática em 2017.

Infelizmente, no Estado que gerou expoentes da Matemática, essas iniciativas ainda não foram adotadas como deveriam nem pela Secretaria de Educação do Estado nem pela Secretaria Municipal de Educação de Maceió. Ao que tudo indica, apesar de Alagoas ter dois nomes fortes e qualificados à frente das respectivas secretarias (o engenheiro civil e vice-governador Luciano Barbosa e a médica e ex-reitora da Ufal Ana Dayse), as equipes dos dois secretários parecem não enxergar, por corporativismo ou simples falta de visão, o impacto que a promoção de programas de apoio a esses eventos na rede Estadual e da capital teria nos indicadores de Educação do Estado – cujos resultados permanecem, apesar dos discursos, entre os mais medíocres do país.

Caso dessem mais atenção ao tema, eles descobririam por meio de uma conta simplória (sem necessidade de equações sofisticadas) como a multiplicação desses programas poderia alavancar, sem grandes custos, o desempenho escolar dos nossos alunos – numa era em que o domínio da Matemática e do raciocínio lógico é essencial para garantir empregos melhores num mundo cada vez mais digital.

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