Conheça a verdadeira origem do filé alagoano e como um novo selo vai valorizá-lo no mercado

Agendaa 7 de agosto de 2016

Assim como o nome Champanhe serve para indicar os espumantes produzidos na região do mesmo nome, na França, o bordado filé produzido na região das nossas lagoas ganhou, nesta quinta-feira (4), um certificado de indicação para atestar sua origem.        

Trata-se do certificado de Indicação Geográfica do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que garante que o “filé das lagunas” de Alagoas seja identificado também por sua técnica e qualidade – e não corra o risco de ser confundido por bordados de qualidade inferior.

“A certificação é de extrema importância ao menos por dois aspectos”, diz a professora de Arquitetura e consultora do Sebrae Marta Melo, responsável por projetos de valorização do artesanato alagoano. “Em primeiro lugar, é uma espécie de salvaguarda da qualidade do filé da região para que ele não tenha que se rebaixar para competir com produtos de qualidade inferior”, diz a consultora. “Além disso, ele é uma garantia ao consumidor de que está adquirindo uma peça genuína em pontos de venda cadastrados preocupados com a origem e qualidade do produto”.

Marta explica que, com a explosão do Turismo no Nordeste no início dos anos 1980, a pressão pela oferta de peças em escala e baixo valor fomentou uma verdadeira “indústria” artesanal de produtos de qualidade duvidosa em meio a outras bugigangas envernizadas vendidas como artesanato.

“Graças ao trabalho de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, integrantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e consultores ligados à arte popular e a instituições como o Sebrae, iniciou-se há alguns anos um trabalho coordenado para incentivar a preservação da técnica e da qualidade dos bordados do filé em torno de nossas lagoas”.       

Apesar de não haver números precisos em torno do impacto da certificação no mercado, especialistas estimam que o registro do INPI deve elevar em até 30% o valor do artesanato alagoano quando comparado a similares de qualidade inferior.

Mas, afinal, qual a origem histórica do bordado de filé alagoano?

Segundo os pesquisadores, não é à toa que o bordado de filé alagoano está encravado em comunidades pesqueiras de nossas lagoas como o Pontal da Barra, às margens da Mundaú, ou Marechal Deodoro, às margens da Manguaba.

A palavra filé, afinal, vem do francês “filet” – que quer dizer rede.

Isso mesmo: a mesma palavra que serve para identificar a rede usada por pescadores serve também para identificar a rede de fios que serve como uma espécie de tela para as artesãs alagoanas bordarem suas composições. (Até o filé mignon tem, sim, origem na mesma palavra francesa, provavelmente pelo formato achatado do corte da carne).

Ainda que seja impossível saber exatamente quem bordou o primeiro filé, sabe-se que no Egito e em outras regiões do Oriente Médio havia redes bordadas desde o tempo dos faraós.

Na Europa, a técnica se difundiu na Idade Média, ganhou força no Renascimento e até hoje são famosos os bordados de filé de regiões da Itália, como o de Pistóia, e na região do Minho, em Portugal, em Felgueras.

Ao desembarcar no Brasil via colonização europeia (seja dos portugueses ou de missionários de outras origens, como italianas), o bordado do filé, assim como a religião trazida pelos padres, logo ganhou identidade própria.

Enquanto o famoso filé de Filgueras, por exemplo, em Portugal, tem composições de flores rebuscadas e pássaros, o filé alagoano, por exemplo, tem seus pontos e desenhos próprios com nomes sugestivos como “Casa de Noca”, “Espinha de Peixe”, “Olho de Pombo”, entre outros. (Para conhecer mais sobre as composições e a história do filé alagoano, vale acessar o site do Instituto Bordado Filé Alagoas aqui)

Mais do que simplesmente agregar valor de mercado ao produto, a nova certificação estimula a elevação dos padrões de qualidade da técnica e, claro, a autoestima das artesãs, o turismo e a identidade alagoana.

Resta agora agir para que o exemplo da valorização do filé se espalhe como sua rede para outras atividades do Estado.

por Rodrigo Cavalcante

 


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