Costa Rica: 5 lições que Alagoas deveria aprender sobre turismo com o país que deu sufoco à seleção

Agendaa 22 de junho de 2018

por Rodrigo Cavalcante

Os políticos alagoanos preferem Miami.

Mas é provavelmente a Costa Rica, cuja seleção deu trabalho ao Brasil nesta sexta, que tem mais a ensinar aos gestores públicos e privados alagoanos sobre como Alagoas poderia, sim, alavancar sua economia respeitando a biodiversidade local e integrando a população e pequenos negócios na cadeia do setor.

Para aqueles que gostam de repetir que o turismo é a grande vocação de Alagoas (mas não parecem alcançar, de fato, uma compreensão da área como eixo principal de desenvolvimento econômico e social), AGENDA A lista abaixo ao menos 5 lições do país da América Central que se tornou uma potência no setor – sem deixar de lado o cuidado com o meio ambiente.

1ª lição – Assuma o turismo como principal eixo do desenvolvimento econômico e social;

Assim como a economia de Alagoas costuma ser conhecida principalmente pela cana-de-açúcar, a Costa Rica foi, por muitas décadas, conhecida como uma República das Bananas – já que a fruta, ao lado do café, eram (e ainda são) alguns dos principais produtos de exportação do país. A partir dos anos 1990, contudo, a economia do país passou a ter como principal motor o turismo. Não se trata de “mais um motor”. Aproveitando sua diversidade de paisagens que incluem belas praias, parques florestais, cavernas, lagoas e outras atrações, o país assumiu integralmente a vocação e se tornou um dos maiores destinos de ecoturismo global chegando a receber por ano cerca de 3 milhões de visitantes que geram uma receita anual do país de mais de 2,5 bilhões de dólares. Para efeito de comparação, isso significa que a Costa Rica, com seu território pouco maior do que o do Estado da Paraíba, recebe, por ano, quase metade de todos os turistas que vieram ao Brasil no ano das Olimpíadas (estimados em pouco mais de 6,5 milhões). Claro que a Costa Rica continua investindo na diversificação da economia. Mas, diferentemente de Alagoas, cujo complexo de inferioridade industrial parece fazer com que todo governante sonhe em atrair um “grande estaleiro” ou outro símbolo industrial do século passado, a economia do país da América Central deu um salto de uma economia primordialmente agrícola para uma economia baseada no turismo e empresas de tecnologia. O foco, no caso, é garantir um desenvolvimento consistente, sustentável e mais compatível com a preservação das paisagens naturais do país.

2ª lição – Torne-se um Estado verde movido à energia renovável;

Mesmo em comparação ao Brasil, considerado um país de matriz energética limpa, a Costa Rica se tornou referência mundial ao chegar, em 2017, a ter mais de 99,5% da geração elétrica de fontes renováveis. Lá, a energia vem de cinco fontes: 78,26% de hidroelétricas, 10,29% do vento (eólica), 10,23% da geotermia, 0,84% da biomassa e do sol – e apenas 0,38% de termelétricas. Alagoas, por sua vez, já tem mais de 77% de sua energia de fontes renováveis – e, caso invista mais para expandir fontes como biomassa, eólica e solar, pode chegar em breve ao patamar da Costa Rica. Para isso, contudo, é primeiro preciso estabelecer uma meta clara, atingi-la e, claro, divulgá-la – fazendo do feito uma marca que reforce o compromisso com o meio ambiente e fortaleça o turismo. Como Alagoas começa a receber investimentos em fábricas de painel solar e foi pioneira, no Brasil, na produção de combustíveis renováveis no Brasil (veja matéria aqui), o Estado tem tudo para ficar conhecido como o de energia mais limpa do Brasil.

3ª lição – Preserve seus ativos ambientais e explore, além do sol e mar, a diversidade de paisagens

A Costa Rica, tem, sim, um belo litoral (banhado pelo Atlântico e pelo Pacífico) que atrai turistas para as suas praias o ano inteiro. Mas, como tanto o México como o Caribe possuem belas praias e resorts, o grande catalisador do turismo no país foi o ecoturismo baseado na exploração sustentável da diversidade de paisagens e de biomas do país. Enquanto o Brasil, por exemplo, ainda sofre para conter o desmatamento, a Costa Rica já zerou o problema em 1998. E como mais de 50% dos 51 mil km² do país são cobertos com florestas (a meta é chegar a 70% em 2021), o resultado é que 50% do PIB da Costa Rica vem do turismo ecológico. Alagoas, hoje já conhecida como “Caribe Brasileiro”, bem que poderia se tornar a “Costa Rica Brasileira”, explorando de forma sustentável o ecoturismo em nossas lagoas, rios e reservas remanescentes de Mata Atlântica – algumas delas, como o da Usina Serra Grande, em São José da Laje, conhecida por conter uma das maiores diversidades de aves do país. Tampouco a costa do Rio São Francisco, com exceção do trecho de Piranhas, tem sido explorada pelo turismo e esportes aquáticos como deveria. E mesmo a orla urbana de Maceió, encravada em uma área cercada de corais, não tem sequer um centro de educação e divulgação da rica biologia marinha da nossa costa – que poderia, por exemplo, ser localizado no tal marco referencial que será construído no Alagoinha. Isso para não falar do potencial do turismo histórico e de aventura por pontos-chave da história do País como a Serra da Barriga, sede da maior república negra do país, e regiões que foram palcos de algumas das maiores batalhas durante a invasão holandesa, como Penedo e Porto Calvo.    

4ª lição – Crie uma indústria de turismo inclusiva e integrada à economia local

Quando o turismo passa a ser a maior fonte de riqueza de um Estado, nada mais natural que a população entenda que é do interesse dela tratar bem o visitante e cuidar do meio ambiente e da limpeza do destino, certo? Nem sempre. Para que isso aconteça, a população e pequenos negociantes precisam ser estimulados e treinados a terem um papel importante na cadeia do turismo. Maceió, por exemplo, que se apresenta como um dos destinos mais procurados do país, não tem sequer um grande hotel escola para formar profissionais da área. Por que não estimular, por exemplo, a construção de uma grande escola hoteleira em bairros como o Benedito Bentes, que se torne referência para formação de jovens na área – é bom lembrar que os empregos de hoje oferecidos pelas centrais de telemarketing serão eliminados por robôs. E não é preciso ir longe atrás de bons exemplos do que acontece quando a população se engaja na causa do turismo. Compare, por exemplo, a cidade de Piranhas, onde boa parte dos moradores se engaja no setor e transforma suas casas em pousadas, e Penedo, cujos belos casarões coloniais de famílias nobres continuam fechados. Na Costa Rica, por exemplo, o desembarque de grandes redes de resorts internacionais no sistema “all inclusive” em alguns pontos do litoral, totalmente apartadas dos povoados vizinhos, geraram protestos e um debate em torno da busca e preservação de um turismo mais integrado à vida e economia no entorno.

5ª Lição – Ao investir no marketing do destino, você aumenta valor de toda cadeia produtiva da região

Como um país focado no turismo, a Costa Rica investe, claro, em campanhas internacionais para atrair visitantes ao país. Além de beneficiar o turismo, a propaganda do destino termina sendo útil para alavancar, de quebra, toda a cadeia produtiva do país, que quer também quer se tornar um hub de empresas de tecnologia na América Central. O que a Costa Rica sabe, assim como outros países, é que ao projetar uma marca positiva do país no mundo, essa marca termina agregando valor a outros negócios. Pense, por exemplo, o quanto a indústria de moda praia de um país como a Austrália está diretamente associada à imagem solar do país no exterior. Ou seja: quanto mais Alagoas se tornar um destino reconhecido no Brasil e no exterior, várias outras cadeias produtivas do Estado, da indústria têxtil à produção de placas fotovoltaicas, ganharão valor agregado.   

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