Alagoano conta como ingressou na bilionária indústria de games nos EUA; veja entrevista

Agendaa 15 de agosto de 2016

por Lívia Vasconcelos 

Após unir uma formação clássica em Artes Plásticas, na Califórnia, com um mestrado em animação 3D, o alagoano Dimitri Frazão conseguiu um lugar de destaque em uma das indústrias mais competitivas e bilionárias dos Estados Unidos: a de jogos eletrônicos.

Aos 34 anos, ele ocupa o cargo de “Artista técnico” do conceituado estúdio Giant Squid, cujo diretor de arte, Matt Nava, ganhou fama na indústria por games como Journey e o mais recente ABZÛ – uma jornada oceânica elogiada por críticos de games como uma experiência visual única e inovadora –  marca registrada dos games do estúdio.

Abaixo, o alagoano contou à AGENDA A sobre como ingressou nessa indústria e os bastidores de produção de um game.   

 

Você teve uma formação de base em Artes e depois cursou o mestrado em animação 3D. Como foi a mudança para uma área ligada à tecnologia?

A mudança ocorreu de forma natural. Sempre gostei de games e, durante o mestrado, decidi que queria trabalhar nessa indústria. Como artista, tinha um pouco de medo de não conseguir aprender esse lado técnico, mas acabei descobrindo que gosto muito de programar. Hoje, sou fascinado com a mistura de arte e tecnologia que a indústria de jogos oferece.

E como você terminou em um estúdio conceituado como o Giant Squid?  

Após ter me formado, consegui meu primeiro emprego em outra empresa. Três anos mais tarde, assisti ao primeiro trailer do  game ABZU durante a E3 de 2014, quando a Giant Squid estava começando sua produção. Já conhecia e admirava o trabalho do Matt Nava, diretor de arte da empresa a qual faço parte. O jogo que ele trabalhou anteriormente, Journey, fez muito sucesso e recebeu vários prêmios. Descobri que havia uma vaga para Artista Tecnico na Giant Squid e resolvi mandar meu currículo. Após três entrevistas, fui contratado.

Oficialmente, você ocupa o cargo de “Artista Técnico” no estúdio, espécie de ponte ente os programadores e os artistas. O que exatamente você faz e como é a sua rotina de trabalho?

Boa parte do meu trabalho é dar suporte ao departamento de artes para que eles consigam produzir conteúdo para o jogo de maneira mais eficaz e produtiva, da criação de ferramentas customizadas à pesquisa de novas técnicas e tecnologia na área. Também costumo produzir conteúdo para o jogo quando a tarefa requer um suporte que seja técnico demais para os artistas ou, ao mesmo tempo, artístico demais para os programadores.

Quais as etapas de criação de um game como o ABZU para Playstation 4 e quanto tempo dura da ideia ao lançamento no mercado?

Uma vez que o conceito é aprovado, o próximo passo é desenvolver um protótipo para que as ideias originais sejam testadas. Nesse período, algumas ideias funcionam, outras mudam ou são completamente descartadas. Em seguida, é preciso fazer uma versão Alpha no qual seja possível jogar o jogo do começo ao fim. Posteriormente, criamos uma versão Beta em que já não se deve fazer alterações no jogo, a não ser para consertar erros ou fazer algum polimento no conteúdo artístico. Finalmente, lançamos a chamada versão Gold quando o jogo está completamente pronto pra ser distribuído. Do início ao fim, o jogo ABZU, por exemplo, levou cerca de trpara ser lançado, o que é um tempo de produção considerado normal para um jogo de Playstation 4.

Você ainda joga em casa por diversão? Que estilo de jogos você prefere?

Jogo, ainda que de maneira bem mais seletiva. Afinal, entre o trabalho e a família sobra pouco tempo pra jogar. Apesar de trabalhar com games, passo maior parte do meu tempo desenvolvendo conteúdo para o nosso jogo e termino tendo pouco tempo para jogar por diversão. Já no ambiente de trabalho, as  poucas vezes em que jogamos são dedicadas à pesquisa e análise de novas mecânicas e técnicas que possam ser absorvidas como aprendizado. Hoje, dou preferência aos jogos desenvolvidos de forma independente, pois estes possuem maior liberdade artística e oferecem um conteúdo mais rico. Acredito que os games têm um potencial artístico e capacidade de enriquecer a vida das pessoas da mesma maneira que um bom filme ou um bom livro é capaz.

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