Com álbum “Madrugada”, um dos maiores músicos de Alagoas começa a rodar o mundo via streaming
Agendaa 3 de março de 2021
por Rodrigo Cavalcante
O músico alagoano Felix Baigon é, de certa forma, parecido com o instrumento que o consagrou, o contrabaixo.
Discretos, não costumam chamar atenção para si no palco.
Mas, assim como o quase sempre injustiçado contrabaixo serve de fundação de apoio para toda banda (é o elo de ligação entre as partes rítmicas e harmônicas), o alagoano Baigon também tem sido um dos elos da música instrumental em Alagoas, atraindo com seu talento grandes nomes da música brasileira para tocar em projetos como o “Jazz Panorama Ao Vivo”, que colocou o estado na rota das grandes apresentações instrumentais. Felizmente, esse reconhecimento começa também a chegar ao exterior.
Ao decidir, ano passado, reunir gravações de composições próprias e com parceiros realizadas há alguns anos, Baigon descobriu que tinha em mãos a base para lançar um álbum autoral.
Nasceu, assim, “Madrugada”, que começa a rodar o mundo graças aos aplicativos de streaming como Spotify, onde as faixas do álbum têm despertado elogios de críticos e músicos de vários países.
Logo após o lançamento, Madrugada, por exemplo, foi indicado pela revista de mídia social Grimes, da produtora e música Alicia Grimes, como um dos “20 álbuns independentes para ficar de olho”.
Em Chicago, Estados Unidos, a rádio especializada em Jazz Blue Wolf inseriu na programação a faixa do álbum Galope.
Na Itália, o podcast especializado AnimaJazz selecionou a música O Barraco, de Madrugada, para ser transmitida ao lado de clássicos como do pianista Bill Evans.
E, aqui no Brasil, as faixas de Madrugada têm sido escolhidas até para embalar trilha de programas do GNT, como o “Cozinha Prática com Rita Lobo”.
“Apesar do streaming não pagar quase nada aos músicos, é muito bacana ver nosso trabalho circulando no Brasil e mundo afora graças à tecnologia”, diz Baigon. “E o melhor ainda é poder acompanhar, por exemplo, as faixas mais tocadas em países tão distantes como o Japão”.
Apesar de ter conquistado o respeito de grandes críticos e músicos do Brasil, a trajetória de Baigon ainda é pouco conhecida por muitos dos seus conterrâneos.
Tendo iniciado sua carreira tocando tuba na banda da Escola Técnica Federal de Alagoas, onde foi contemporâneo de músicos como o maestro Almir Medeiros, o trompetista Joatã Nascimento, entre outros, Baigon passou também a tocar violão em rodas de amigos e logo começou a se aprofundar no instrumento com ajuda de colegas músicos que tinham aulas com violonistas clássicos como professor Romero. Não demorou para ser convidado a tocar em boates como Au Gai Paris, então na Cruz das Almas, com repertório de sambas tradicionais (antes do advento do pagode). Convidado, em seguida, a tocar contrabaixo na banda LSD (nessa altura, o ex-vocalista da banda Djavan já começava a fazer sucesso no Rio), Baigon logo se formaria na maior escola dos grandes músicos, “a banda de baile”, onde o músico é obrigado a reproduzir com rapidez e fidelidade dezenas de sucessos variados dos mais diversos gêneros e ritmos musicais.
Após participar de festivais e produções de música no início dos anos 1980 (como o do DCE da Ufal) e começar a ser conhecido por músicos que vinham ao Estado acompanhar grandes artistas no Projeto Pixinguinha, Baigon decidiu, em 1986, arriscar a carreira no Rio de Janeiro. Lá, tocou mais de três anos na lendária Orquestra Tabajara, que lhe abriu portas para acompanhar artistas consagrados como Jamelão e Nelson Gonçalves e então estreantes como Jorge Vercílio.Tocou também na Rio Jazz Orquestra, Cuba Libre, até que, em meados dos anos 1990, em meio à decadência do mercado fonográfico (e um tanto cansado do então clima de violência do Rio à época os grandes arrastões), começa a ser chamado a fazer trabalhos em Alagoas para produzir artistas locais.
Voltou em 1996, sim, mas não se acomodou, se tornando nos últimos anos um dos nomes mais influentes e respeitados entre músicos de Alagoas, do Brasil — e agora, via streaming, de outros fãs e críticos de Jazz e música instrumental em vários países.
“Assim que o momento permitir, vamos lançar o álbum oficialmente por aqui com um show em Maceió, diz Baigon, com o mesmo entusiasmo e curiosidade pela música do menino Adelson Felix da Silva (seu nome de batismo) que, aos domingos, se encantava com a roda de samba e de choro dos músicos da Escola de Samba Unidos do Poço.
Confira, abaixo, a faixa O Barraco, do álbum Madrugada, em que contrabaixista Baigon toca ao lado da guitarra de Ricardo Lopes, o saxofone de Everaldo Bordes, o teclado de Jiuliano Gomes e a bateria Ítalo Vinícius na bateria: