Um dos maiores violonistas do mundo, Yamandu Costa fala do show no Deodoro e do tempo em que morou na Ponta Verde

Rodrigo 8 de outubro de 2023

Yamandu Costa, ao lado de foto da antiga churrascaria O Laçador, na Ponta Verde, onde o violonista viveu por quase um ano

Ele é gaúcho nascido em Passo Fundo, mora atualmente em Lisboa, de onde parte mensalmente para shows em todo o mundo – mas diz que até hoje não esquece da temporada de quase um ano que viveu na Ponta Verde, em Maceió, aos 11 anos de idade, acompanhando os pais músicos que vieram em 1991 se apresentar na saudosa churrascaria O Laçador.

Sim, Yamandu Costa, conhecido internacionalmente como um dos maiores violonistas do mundo, diz que foi em Maceió (onde faz show “Esperançar” no próximo dia 13, no Teatro Deodoro) que começou desenvolver mais sua relação com o violão e com outros estilos musicais que passou a ouvir mais em Maceió.

“Tenho grandes recordações de Maceió, das caminhadas pela Ponta Verde e Pajuçara, desse mar maravilhoso, e de como comecei aí a desenvolver mais o violão ouvindo Bossa Nova e outros estilos pela orla”, disse o músico por telefone de Portugal a AGENDA A, poucos dias antes de seu show no Teatro Deodoro (veja serviço do show abaixo da entrevista). 

É verdade que você chegou a morar um tempo em Maceió? Em que ano esteve aqui e quais são suas principais lembranças de Alagoas?

Sim, tenho uma relação muito antiga com Alagoas e com o Nordeste, que começou mesmo antes de eu nascer (1980). É que meu pai (multi-instrumentista Algacir Costa, líder do grupo Os Fronteiriços, falecido em 1997) era amigo de infância dos irmãos Broll (fundadores da rede de churrascaria O Laçador) e acompanhou, desde o final dos anos 1960, a abertura do O Laçador em Recife e, anos depois, em Maceió, na Ponta Verde. Na década de 1980, ele foi passar uma temporada em Recife, e em 1991, moramos quase um ano aí em Maceió, na Ponta Verde, no Laçador, ao lado daquela praça bonita (Gogó da Ema). Tinha 11 anos e me lembro que foi um momento em que comecei a desenvolver mais o violão, porque nessa época comecei a me virar tocando o que fosse preciso, até bateria, que tive que assumir quando um primo desenvolveu tendinite. E lembro que foi aí, ouvindo Bossa Nova, trios de Jazz e outros estilos nos bares da orla da Ponta Verde e da Pajuçara, que comecei a desenvolver mais o violão para outros estilos. Foi aí também que tive a maior relação com o mar, claro, lembro até hoje do calor, do coqueiral e até do sargaço nas caminhadas entre Ponta Verde e a Pajuçara, além dos passeios por outras praias lindas como a Barra de São Miguel. Viajei também pelo interior, partindo daí também para cidades de outros Estados, como Campina Grande.

Vem daí a diversidade do seu trabalho em parcerias que vão do argentino Lúcio Yanel a Dominguinhos, de Toquinho a Hamilton Holanda? 

Acho que sou uma espécie de continuação da cabeça do meu pai, que era também um cara inquieto, assim como eu. Me criei dentro de um ônibus perambulando pelo Brasil. Aos 19 anos, comecei uma carreira internacional e sempre fui curioso com a origem da música de diferentes lugares, buscando aprender mais, e fui muito privilegiado por ter convivido com esses parceiros. Mesmo quando me sinto um pouco cansado em meio à rotina de aeroporto, hotel e viagens, lembro o quanto sou privilegiado por ser alguém que vive da música e para a música. Certa vez, ao encontrar Djavan de bom humor esperando malas no aeroporto em meio a uma dessas viagens, que me dei ainda mais conta desse privilégio.

O que o Djavan lhe disse… 

Acho que eram umas quatro horas da manhã no aeroporto no Rio de Janeiro. Estava um tanto cansado, esperando a bagagem, quando me deparei com o Djavan sorrindo, com extremo bom humor, me dizendo algo como: “Que privilégio e vida maravilhosa a música nos proporciona!”. Fiquei impressionado em ver o Djavan com aquele bom humor ainda de madrugada e, mesmo quando estou cansado de pé em uma fila de aeroporto entre uma e outra viagem, procuro me lembrar o quão grato devemos ser por tudo que a música nos deu.  

Em seu álbum mais recente, “Vento Sul”, você canta canções em todas as faixas, mas disse que se trata apenas de um registro e que não pretende fazer um show do álbum. Por quê?  

Esse foi um projeto paralelo bacana que queria fazer, com as letras do grande Paulo César Pinheiro, que agora está registrado e disponível, mas que não tenho pretensão de mostrar ao vivo. Até porque esse negócio de cantar é um negócio difícil (risos). Tenho minha carreira internacional há mais de 20 anos e acho que a palavra limita mais, enquanto o violão não têm fronteiras. Enfim, foi um trabalho que queria fazer, está disponível, mas não pretendo redirecionar a carreira.

Apesar de ser reconhecida internacionalmente, a chamada música instrumental no Brasil está longe de ter a mesma projeção no país. Por quê?

A questão já começa com essa denominação, música instrumental. Esse conceito de música instrumental é algo mais típico do Brasil e da América Latina. Ninguém diz, por exemplo, que vai a um show de música cantada. Quando um taxista sabe que sou músico, a primeira coisa que pergunta é para qual artista eu toco? (risos), o que diz muito sobre a nossa falta de compreensão da música. E aí não tem jeito, tudo começa com educação. Apesar da recente falta de cuidado do país com a educação, consigo enxergar de forma mais clara aqui de Portugal, onde moro há quatro anos, o potencial inacreditável de nosso país. E o Nordeste é uma prova disso. Apesar de todas as dificuldades da região, tive o privilégio de crescer em uma família de músicos que conviveram e valorizaram nomes como Luiz Gonzaga, Osmar Macedo (um dos inventores do trio elétrico, pai de Armandinho), Dominguinhos, entre tantos gigantes. 

E como será o show em Maceió?

Quero um show o mais informal possível, em que o público se sinta bem à vontade, num ambiente mais íntimo, com um repertório que inclui músicas que fiz durante a pandemia, acompanhado de histórias, de humor. Enfim, procuro seguir o estilo dos grandes mestres, sem reinventar a roda, unindo músicas e histórias, como fazia o grande Baden Powell, com quem tive oportunidade de tocar.

 

SERVIÇO
Yamandu Costa – Show Esperançar

Data, hora e local: sexta (130), 20h (abertura da casa às 19h), noTeatro Deodoro.. Centro de Maceió

Ingressos: Plateia: R$ 75,00 (meia-entrada) e R$ 150,00 (inteira)/ Frisas e camarotes: R$ 55,00 (meia-entrada) e R$ 110,00 (inteira)/ BalcãoR$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 60,00 (inteira)

Vendas: Petit Paris – Av. Dr. Antônio Gomes de Barros, 215 – Jatiúca e online: https://bit.ly/3PrFbh3 –

Mais informações: (82) 99966-0263/ @suechamuscaoficial