Fim de uma era: como a TV Gazeta perdeu a renovação do contrato com a Globo após quase 50 anos

Rodrigo 18 de novembro de 2023

Evento inaugural da TV Gazeta com Arnon de Melllo, Maria Cândida e Pedro Collor: 48 anos depois, Globo não renova contrato

Foram quase 50 anos de casamento – agora, sem festa de Bodas de Ouro.

Segundo apurou AGENDA A, a TV Globo encerrou semana passada um casamento de 48 anos com a TV Gazeta de Alagoas, emissora da Organização Arnon de Mello, e iniciará oficialmente seu contrato de afiliação no Estado com o Grupo Nordeste de Comunicação (GNC), proprietário da TV Asa Branca, afiliada da Globo em Caruaru.

Procurado, o grupo GNC não comentou o assunto.

Apesar de notícias sobre a não renovação do contrato da Organização Arnon de Mello com a Globo terem sido divulgadas nos últimos meses (possibilidade já adiantada inclusive por AGENDA A, em matéria de 2021, sobre o desembarque do grupo pernambucano no Estado), a mudança foi confirmada também pelas recentes movimentações  judiciais (até agora infrutíferas) da Organização Arnon de Mello de prorrogar o contrato que já havia sido postergado com a Globo via um aditivo até o próximo dia 31 de dezembro.

Em um desses pedidos recentes, o próprio juiz, em despacho no Diário da Justiça Eletrônico, deixou claro que não poderia postergar o contrato sem ouvir a Globo, “uma vez que a empresa Globo Comunicação e Participações S.A. não é parte nos presentes autos, sequer na qualidade de credora (…)”.

O desejo da Globo de não mais renovar o contrato com a Organização Arnon de Mello, contudo, vem se manifestando há quase 20 anos, desde que o ex-presidente Fernando Collor interrompeu uma das últimas tentativas sérias de profissionalização da gestão do grupo.

Após a morte de Pedro Collor, em 1994, que até então conduziu por décadas a gestão da empresa, o último movimento de profissionalização do grupo ocorreu em 2003, quando Joaquim Pedro, filho de Collor, economista formado nos EUA que já despontava como um dos mais importantes líderes do grupo Monteiro Aranha (grupo empresarial e financeiro da família da mãe, Lilibeth Carvalho, primeira esposa de Collor), decidiu assumir o comando da OAM após a morte repentina do então diretor da OAM, Ivan Scala. 

Com apoio do irmão Arnon e sensibilizado pela situação caótica (e de endividamento) do grupo da família paterna, Joaquim trocou temporariamente o Rio por Maceió na tentativa de implantar um modelo de gestão profissionalizado e apoiado em indicadores para restituir a credibilidade financeira e editorial do grupo arranhada pelas constantes intervenções de Collor.

Menos de dois anos após ter conseguido restituir boa parte da credibilidade da OAM junto do mercado e da própria Globo, Fernando Collor, insatisfeito com a blindagem profissional e editorial erguida pelo filho, decidiu retomar de forma intempestiva a gestão da empresa liderada por Joaquim (sem esperar sequer o filho retornar de uma viagem) para poder voltar a defender seus interesses políticos e comerciais, o que agravaria, anos depois, a situação financeira do grupo que entrou em Recuperação Judicial com uma dívida que já esteve próxima dos R$ 300 milhões.

Além da recuperação judicial (com calotes trabalhistas) e descumprimentos de cláusulas de investimentos contratuais com a Globo, as denúncias de corrupção que culminaram com a condenação de Collor e de diretores da própria OAM por recebimento de propinas usando a própria empresa teriam tornado irreversível a decisão da Globo de não renovar o contrato com a TV Gazeta que se encerra em 31 de dezembro.

Até lá, se os advogados da OAM não conseguirem no judiciário nenhuma decisão que obrigue a Globo a postergar o contrato (o que, segundo fontes do próprio Judiciário, parece improvável), não apenas o futuro de Collor e da empresa são incertos, como também dos profissionais que trabalham na OAM – que, além de não terem recebido valores e dívidas trabalhistas, continuam sem informações oficiais do então maior grupo de comunicação de Alagoas.